26.11.10

TROPA DE ELITE 3

Tullio Andrade


Rio de Janeiro, novembro de 2010... Talvez fosse assim que o agora Coronel Nascimento começaria sua narrativa sobre o que pode vir a ser o filme Tropa de Elite 3. Mas os ônibus incendiados no RJ não são parte da figuração de mais um sucesso de bilheterias.

Enquanto o resto do país se deleita com as imagens que as emissoras de TV transmitem ao vivo dos tiroteios e das ações da Polícia Militar ninguém parece fazer a pergunta mais óbvia de todas: o que está por trás disso tudo? Certamente o Coronel Nascimento faria essa pergunta e, com a didática quase acadêmica de um professor primário, explicaria aos eufóricos telespectadores o que pode estar por trás de tudo.

Pode parecer “legal demais” ver os blindados da Marinha e o armamento de última geração nas mãos de pobres soldados que obedecem ordens sem ter o direito nem de pensar... E pensar é o que nós temos a obrigação de fazer. Pensar no que é que os traficantes querem com esses ataques. Não sou sociólogo e muito menos especialista em segurança pública, mas durante o intervalo comercial do jornal parei para pensar: O que os traficantes ganham com isso?

Pode até ser um pensamento ingênuo de um leigo em segurança, mas a meu ver, a indústria do tráfico não tem sofrido nenhum abalo realmente significante para justificar ações como essas por partes dos criminosos. Então, se o negócio está dando certo, rendendo lucro, por que fazer esse auê e chamar a atenção da polícia para cima dos morros?! O que eles ganhem com isso?!?!?

Na modéstia do meu humilde ponto de vista, acredito em duas possibilidades: ou isso é para tirar a atenção da polícia de outra localidade, onde de repente agora mesmo está acontecendo algum crime bem maior, como a entrada de drogas pela fronteira; ou para desviar a atenção da opinião pública para outras questões, afinal estamos em época de fim de mandatos estaduais e federais. E todo mundo sabe (ou pelo menos deveria saber) é o melhor momento de se meter a mão no dinheiro público; pois a conta fica para a próxima administração pagar... Ou então as duas coisa juntas. Mas o fato é que essa mega operação vai render muito voto (e muito dinheiro) para alguém. E, sinceramente, não acho que é só para os traficantes.

Enquanto isso, ficamos aqui na frente da TV vibrando com as “ações” da PM “sentando o dedo na bandidagem”. E o pior é que não podemos nem dizer que é o efeito Tropa de Elite; pois assim estriamos sendo injusto com a grande obra cinematográfica de José Padilha. Pra mim, a onda Tropa de Elite deveria ser a iniciativa de parar e pensar sobre o que está por trás das manchetes dos jornais. Mas infelizmente parece que isso não está acontecendo.

Os ataques no Rio certamente têm algum interesse escuso por trás; e os grandes beneficiados com isso não são os traficantes. É alguém bem maior, que não está em cima do morro, nem de fuzil na mão. É que acreditamos tanto no papo furado da imprensa e da política (afinal as duas se confundem) que elegemos os grandes vilões do Brasil: os traficantes; enquanto os verdadeiros criminosos estão lá encastelados (e muitas vezes idolatrados) em seus ternos, togas e fardas.

É isso aí... Faca na Caveira!

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